A beleza não tem padrão. Como ajudar filhos e filhas a compreender isso?

2 de dezembro de 2019

“Nossa sociedade ‘ensina’ aos mais jovens que o sucesso e a felicidade podem ser atingidos por meio da beleza expressa nos padrões apresentados”.

 

Outro dia, uma prima me falou: “Com o João é mais tranquilo, ele aceita que o corpo dele não é bombado. Mas com a Bia é difícil, ela quer alisar os cabelos a qualquer custo e deseja fazer dieta sem parar”. Explico: minha prima tem dois filhos. João, alto e magro, com 14 anos e Bia, uma linda morena de cabelos cacheados.

Pois é, respondi a ela, João e Bia são pessoas inteligentes e sabem ler o tipo de beleza que se valoriza nos filmes, nas revistas e nas redes sociais. Eles percebem que são considerados bonitos os meninos que “puxam ferro” e definem sua musculatura corporal nas academias e as meninas que têm cabelos esvoaçantes que caem e não ficam armados.

É verdade que padrões de beleza sempre existiram e mudaram historicamente. A ideia do que significa ser uma pessoa bonita muda ao longo do tempo.  Mas, no contexto atual, graças ao poder midiático, há a incessante busca pelo corpo perfeito, o que pode trazer assombrosas consequências a adolescentes que procuram alcançá-lo, independentemente de sua cultura, sua genética ou biótipo.

Diariamente, por meio de televisão, propagandas, revistas, sites, blogs e redes sociais, os adolescentes têm acesso a fotos de pessoas esteticamente perfeitas para os padrões da atualidade, e isso os estimula a adotar esse padrão como o ideal.

Porém, é preciso que as famílias fiquem atentas a uma série de consequências resultantes da adoção do padrão estético a qualquer custo.

Os meios de comunicação e as redes sociais têm sido verdadeiros instrumentos de tortura, pois perseguem o indivíduo com corpos que são oferecidos como modelos, o que tem levado os jovens a limitar suas conquistas à anatomia do seu corpo. Não conseguem valorizar a própria beleza e exaltam o que, em desacordo com o padrão estético, pensam ser os seus defeitos.

Isso acontece porque nossa sociedade “ensina” aos mais jovens que o sucesso e a felicidade podem ser atingidos por meio da beleza expressa nos padrões apresentados. Assim, não se trata apenas de uma percepção estética de si mesmo, mas de uma necessidade fundamental para que se tornar uma pessoa feliz, cheia de experiências vitais exitosas. Veja que aparece aqui uma questão de aceitação e projeção social.

A adolescência, entendida como um conceito social moderno, representa a possibilidade do surgimento da subjetividade com base em novos padrões identitários. O distanciamento entre a imagem do próprio corpo e a do corpo ideal faz com que muitos jovens tenham sua autoestima reduzida ou mesmo extinta.

Nessa direção, especialmente nesta fase da vida, as mídias influenciam o como constituir-se a si mesmo. As mídias, por meio da publicidade e propaganda, modela os comportamentos de crianças e jovens, até o ponto de serem considerados naturais para a realidade cotidiana.

Sem ter maturidade e visão crítica para compreender os processos de construção de mensagens, dificilmente os jovens expostos a mídias poderão analisar as mensagens, diretas e ocultas, que lhes são transmitidas pela milionária indústria de cosméticos, emagrecedores, complementos alimentares e pela avalanche de produtos e serviços que podem aprimorar a estética e a forma física.

Neste sentido, é fundamental que a família exerça o seu papel educador, ao auxiliar crianças e adolescentes a perceber o que está por trás da ditadura da beleza. Pais e mães precisam estar preocupados com o desenvolvimento de uma boa estrutura emocional de seus filhos e filhas para que não sigam desejando um estereotipado padrão de beleza.

Por fim, disse à minha prima que é preciso ensinar ao João e à Bia que, embora vivamos em um mundo em que somos classificados pela “beleza”, é necessário evidenciar a diversidade e a beleza singular das pessoas. Afinal, basta mirar o mundo cotidiano real para percebermos o quanto as pessoas são diferentes e particularmente bonitas, mesmo que fora do dito “padrão de beleza”.

 

Francisca Romana Giacometti Paris é pedagoga e mestra em Educação.

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