Convite à leitura: a importância do exemplo e o incentivo da família

2 de dezembro de 2019

“Em uma família onde ninguém lê, os jovens pouco se interessam pela leitura”.

 

Outro dia, aguardando na sala de espera de um consultório médico, presenciei um diálogo entre duas senhoras que, tanto quanto eu, também aguardavam por um atendimento.

Dizia uma delas, perguntando à outra: “A leitura não está presente em todos os ambientes da nossa sociedade? Então, por que os jovens não têm o hábito de leitura?”. A outra, então, respondeu de imediato: “Porque hábito de leitura é formado na infância, é de pequenino que se torce o pepino. Não será na juventude que o hábito será criado”.

Confesso que o breve diálogo das senhoras me provocou questionamentos e dúvidas e, depois de pensar muito, fiz algumas reflexões sobre tal assunto, as quais apresento neste texto.

Observando minha própria experiência, concluo que a leitura é para mim muito mais prazer e fruição do que hábito. Ora, tenho muitos hábitos: tomar banho antes de dormir, escovar os dentes logo que desperto, sentar-me no mesmo lugar à mesa durante as refeições que faço em casa, e quando não realizo essas ações não me sinto bem.

Assim, penso que hábito se traduz como um padrão de comportamento muito difícil de ser eliminado. Trata-se de uma ação que se repete com constância e regularidade, tornando-se uma mania, um comportamento aprendido que se repete frequentemente, gerando um costume.

Mas, voltando às minhas experiências, certifico-me de que a leitura não é um costume rotineiro e repetitivo, mas uma ação capaz de me fazer sentir intenso prazer pelo que estou lendo, além de me conduzir a um universo múltiplo de sentimentos e sensações. Assim, leio muito mais pelo prazer que a leitura me provoca do que por um costume.

Um dos problemas é que a percepção de que a leitura faz bem a crianças e jovens leva-nos a pensar que é preciso obrigá-los a ler de forma costumeira e não prazerosa. Assim, impomos-lhes os livros como sendo um remédio amargo, porém necessário. Obrigar a leitura diária como ato educativo para que se torne um hábito indispensável pode ser mais danoso do que oportuno na formação de leitores.

A leitura de fruição ou por prazer é diferente das leituras escolares que servem, via de regra, para ampliação de saberes e que muitas vezes são realizadas por obrigação.  A leitura prazerosa, realizada fora do contexto escolar, remete ao mágico mundo do encantamento para promover divertimento e envolvimento entre si mesmo e o texto que está se lendo.

Desta forma, penso que a valorização das ações leitoras terá muito mais sucesso se a família, por exemplo, trouxer para dentro delas um princípio muito importante: o prazer, ponto fundamental para qualquer empenho de incentivo à leitura.

É sabido que as vivências da família são de muita importância para a consolidação do processo de formação do leitor, pois as relações afetivas com os textos e o incentivo para o ato de ler levam os jovens à leitura prazerosa.

O prazer pela leitura pode ser conquistado por meio de simples práticas familiares cotidianas. Uma atitude imprescindível é tornar a leitura como um valor familiar, pois quando jovens e crianças observam seus familiares lendo podem sentir-se incentivados a fazer o mesmo, principalmente se isso acontecer em um ambiente informal, sem obrigatoriedade. Em uma família em que ninguém lê, os jovens pouco se interessam pela leitura.

É importante também deixar que crianças e jovens façam suas escolhas. Há, no Brasil, um farto universo de literatura juvenil, obras que foram produzidas de acordo com o interesse dos mais jovens.

Outra boa dica é sugerir aos jovens livros relacionados a filmes de sucesso. Se já conhecem um pouco do enredo, podem interessar-se igualmente pela leitura.

Incentive a leitura de livros também em formato digital, é provável que o formato digital lhes seja algo mais íntimo.

Recomendar a leitura de alguns livros preferidos é muito interessante: conte o começo da história e pare em um momento de clímax para que desperte neles o desejo de continuar a leitura. Essas são apenas algumas sugestões, entre tantas outras; vale a pena dialogar com filhos e filhas sobre formas para que a família estabeleça momentos coletivos de leitura. Pensemos nisso!

Por fim, à luz das considerações aqui elencadas, desejaria encontrar-me novamente com aquelas duas senhoras da sala de espera do consultório médico para agradecer-lhes as reflexões que teci a partir de seus diálogos, e talvez dizer a elas que a leitura não é hábito que se cria por obrigação, mas atitude que se realiza espontaneamente pelo desejo, na busca do simples prazer de ler.

 

Francisca Romana Giacometti Paris é Pedagoga e Mestre em Educação.

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