Diversidade e inclusão: obras para guiar aulas sobre refugiados e imigrantes

20 de junho de 2022


Em junho temos duas datas importantes que podem e devem servir de oportunidade para discutir diversidade e inclusão em sala de aula: o Dia Mundial do Refugiado (20/06) e o Dia do Imigrante (25/06).

O mundo já ultrapassou a marca de 100 milhões de pessoas que precisam se deslocar forçadamente de seus locais de origem. Este número inclui refugiados, repatriados, apátridas, deslocados internos e requerentes de asilo. 

O número de migrantes internacionais em todo o globo é ainda maior, são 281 milhões de pessoas. Todos suscetíveis à privação de alimentação, falta de abrigo, riscos à saúde, não acesso à educação, à segurança e ao bem-estar, conflitos armados, perseguição, guerras internacionais e civis, epidemias e desastres naturais.

Consequências desse cenário 

Uma das principais, segundo Rima Awada Zahra — especialista em psicologia clínica na abordagem sistêmica, com experiência no atendimento de migrantes e refugiados, e uma das autoras das obras Layla, a menina Síria e O Haiti de Jean, publicadas pela  Editora do Brasil —, é que o refugiado que bate à nossa porta passa por um processo de desumanização, logo, não é visto como digno de ter os direitos humanos básicos garantidos.

“Por conta disso, no Núcleo de Psicologia e Migrações (NUPSIM) e também no Conselho Estadual dos Direitos dos Refugiados Migrantes e Apátridas (CERMA) nossos interesses e ações visam construir estratégias e políticas públicas adequadas para a proteção, exercendo a responsabilidade social que possuímos, a fim de acolher essas pessoas em mobilidade. Para que seja possível a construção de novas relações, processos, atividades, sentidos, e que possam ser respeitadas nos diferentes modos de ser.

Ninguém deveria deixar tudo para trás. Não desejamos isso, mas naturalizamos que aconteça com muitos. As crises humanitárias seguem acontecendo, o que fortalece nosso compromisso com a vida. Diante das fronteiras que existem, as concretas e as simbólicas, receber bem os que vêm de fora deveria ser um dever social, ético e político de todo país de acolhida”, conta.

O papel da escola na luta por diversidade e inclusão

A escola pode ser o local onde as conversas a respeito de diversidade e inclusão começam e se propagam, seja por meio da acolhida ao aluno estrangeiro ou  por meio do ensinar conceitos equitativos. 

As crianças e jovens veem diariamente migrantes, perto de suas casas, escolas, e muitos podem ser seus colegas e amigos. Se existe uma criança em casa, que assiste ao jornal junto com seus responsáveis, provavelmente já viu barcos cheios de gente fugindo de seus países, e se perguntou o porquê. Ou mesmo, em sua escola, estuda um colega que veio de outra parte do mundo e tem um sotaque diferente do português. 

Esses fatos que estão em nosso cotidiano já podem ser justificativas para que se criem espaços na escola para abordar diversidade e inclusão, para refletir com as crianças sobre a migração, de onde vieram e o porquê dessas pessoas estarem aqui e agora.

Livros como impulsionadores da discussão

Entendemos que os livros infantis podem ser utilizados como um critério para responder a essas questões, abordando o tema “migração” não apenas a partir de recursos informativos (reportagens e notícias, impressas ou em vídeo, textos informativos), mas oportunizando a construção de sentidos por meio da relação entre o real e o imaginário da criança, despertando curiosidade e, principalmente, empatia por meio de um texto mais sensível como o texto literário.

“Nosso percurso, nestes sete anos trabalhando a temática, evidencia que é possível conversar com as crianças em sala de aula sobre este tema potente e oferecer espaço para reflexão e produção de sentidos. Acreditamos que os leitores podem lidar com textos que os deixam inquietos ou em estado de interrogação, ou até mesmo triste, isso também é uma maneira de apostar nas aprendizagens sobre a ambiguidade da vida”, comenta Rima.

Ela completa lembrando que mais importante que falar dos direitos dos imigrantes no papel, é materializar essa receptividade teórica em ação e o acolhimento possível na literatura e na vida. “Pensamos, assim, que as obras de literatura infantil podem operar uma abertura para a diferença que não signifique apenas o reconhecimento de que existem muitas línguas, culturas, histórias, memórias, formas de existir e de (re)existir no mundo, mas que inclua o respeito aos direitos à vida, à integridade física, à segurança, à liberdade”.

Rima diz ainda que quer tocar o maior número possível de pessoas por meio da nossa literatura, e colaborar na formação de uma sociedade mais humanizada. “Não deixem de oferecer livros significativos para nossas crianças, e de entregar crianças melhores para nossa sociedade. A hospitalidade é possível no ato e na literatura”, conclui.

Vamos saber mais sobre as obras? 

Layla, a menina Síria

Em Layla, a menina Síria, conhecemos Layla, que veio de Alepo, no norte da Síria. Ela e sua família tiveram que deixar o país por causa da guerra, assim como quase todos os seus amigos e familiares, obrigados a procurar um lugar seguro para viver.

É ela quem nos conta histórias do período tão conturbado que viveu antes de finalmente chegar ao Brasil. Por meio de sua sensível narração, o leitor entra em contato com um mundo completamente diferente, com outros cheiros, sabores, cores e dores. Como será ficar longe de tudo e todos que conhecemos, viver com tantas lembranças tristes, ter que recomeçar do zero? 

O Haiti de Jean

Por sua vez, em O Haiti de Jean, o personagem título, Jean, e sua família tiveram que se separar: enquanto o pai buscava um lugar melhor para onde levá-los, Jean e a mãe tentavam sobreviver com o mínimo que podiam. A narrativa que se segue, por meio do olhar de um menino, mostra as dificuldades enfrentadas pela população haitiana para sobreviver após um fenômeno tão destrutivo como um terremoto.

Não se trata apenas do relato de uma família do Haiti, mas da luta de toda uma população para recomeçar. 

Dica extra: Ilegais

Outra obra publicada pela Editora do Brasil que traz a temática sob outro ponto de vista é Ilegais. Nela, Jair tem um sonho: ser o melhor jogador de futebol. Mas, os testes para alcançar esse sonho são pesados, cansativos e às vezes até injustos. Seu amigo Rildo também tem um sonho: vida nova nos Estados Unidos.

Ele até já tem contato com um “coiote” e tenta convencer Jair de que essa é uma boa ideia.

Ambos são jovens e têm pressa para alcançar o sucesso. Mas será que estão dispostos a pagar o preço? Tornar-se imigrante ilegal em um país estranho não é um mar de rosas. Será mesmo a melhor saída?

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