Layla, A Menina Síria: literatura infantil aborda crise de refugiados

5 de abril de 2019


Por Agência Bowie – Editora do Brasil

O ano de 2011 marcou o início de um conflito sem precedentes na Síria, país da Ásia Ocidental, que tem uma população étnica e religiosa diversificada, em sua maioria árabes sunitas. A guerra civil na região já dura oito anos, e é talvez o maior exemplo de um triste fenômeno que assola o mundo atualmente: a crise de refugiados. Pessoas que, em busca de uma chance de sobrevivência e paz, deixam suas casas e seus países e embarcam para outros lugares do mundo. E o que a literatura infantil tem a ver com isso? A resposta é: tudo!Hoje existem mais de 68 milhões de refugiados em todos os países de todos os continentes, inclusive no Brasil, segundo a Agência ONU para Refugiados. Metade deles são crianças. Em nosso país, assim como no resto do mundo, a maioria dessas pessoas são cidadãos sírios. Tamanha crise vem sendo cada vez mais debatida ao redor do planeta, mas está na mais do que hora de levarmos essa discussão mais além. E é aí que a literatura e toda a sua importância entra em ação.

Layla, A Menina Síria: um olhar emocionante sobre a crise de refugiados
Layla nasceu em Alepo, maior cidade da Síria. Com sua família, deixou seu país por causa da guerra e veio ao Brasil. Conosco, Layla compartilha suas memórias de um mundo completamente diferente, com outros cheiros, sabores, cores e dores. Essa é a premissa de Layla, A Menina Síria, primeiro livro da Coleção Mundo Sem Fronteiras, de autoria da jornalista e escritora Cassiana Pizaia, da psicóloga especializada em Psicologia Clínica, Rima Awada, e da bibliotecária especialista em educação, Rosi Vilas Boas. Layla é uma personagem fictícia, porém baseada em relatos reais de refugiados sírios no Brasil, coletados pelas autoras durante os extensos trabalhos de pesquisa para a obra.

E trazer esse tema tão complexo e importante para a literatura infantil se faz necessária por inúmeros motivos. Cassiana, uma das autoras, fala sobre essa importância: “A gente percebe que os jovens têm muita fonte de informação, só que ela chega fragmentada. A gente sentiu a necessidade de criar uma narrativa que unisse todos os pontos, que explicasse o que aconteceu com essas pessoas na Síria, que país é esse. E por que, no caso da Layla, ela escolheu o Brasil para viver”, conta.

“Quanto mais a gente entende o outro, mais a gente respeita. E isso é muito importante para você incentivar nos jovens alguns valores fundamentais, como solidariedade, empatia e acolhimento”, reforça Cassiana. Para Rima, também autora da obra, “sensibilizar as crianças e jovens para valores essenciais, como a dignidade, contribui para diminuir preconceitos e intolerâncias”, completa.

Crise de refugiados, educação e identidade brasileira
O papel dos professores e das escolas para a conscientização sobre esse tema também é fundamental. Para isso, um livro como “Layla”, mesmo não sendo um livro didático, e sim de literatura, é um grande aliado. “Para fazer esse livro, fizemos uma pesquisa muito cuidadosa sobre os aspectos culturais, sobre a história, sobre a economia e também sobre a própria guerra […], então ele pode ser facilmente trabalhado nas aulas de história, de geografia, de sociologia, principalmente se você pensar que o Oriente Médio é uma das regiões menos conhecidas do mundo, e muito complexa”, explica Cassiana. “Com esse livro, é possível chegar um pouco mais perto dessa região”, finaliza.

Outro objetivo da obra é levar a compreensão sobre a nossa própria população, historicamente formada por imigrantes. “O que a gente quer mostrar é que a sociedade brasileira é o resultado de vários povos do mundo”, diz Rima. “Pensando na gente, quem de nós não tem na família uma história de imigração? Será que não temos um passado parecido também?”, complementa.

Ainda sobre a importância desse debate, podemos destacar que essa semana também foi lançada a novela “Órfãos da Terra”, da Globo, criada por Duca Rachid e Thelma Guedes, que trata da crise de refugiados sírios. Para ambas autoras, a produção traz ainda mais visibilidade para o tema. “A novela acaba nos colocando em conformidade com o que está acontecendo […], tratar de assuntos densos atinge o coração das pessoas. Quando as pessoas se identificam com uma história, elas entendem melhor. É como eu gosto de colocar: é falar de amor. No fundo, Layla e a novela falam de amor”, diz Rima.

Histórias reais
Durante a pesquisa para o desenvolvimento do livro, as autoras ouviram diversos relatos reais de refugiados sírios que vieram ao país. São histórias muitas vezes tristes e difíceis de contar, mas que acabam marcando quem as ouve. Cassiana relembra um relato que impressiona pela simplicidade, mas que mostra um pouco como é o impacto de ver o seu mundo desabar repentinamente:

Uma moça nos contou como ela percebeu que a guerra tinha chegado em Alepo, uma das maiores cidades da Síria. É uma cidade antiga, do ponto de vista econômico, muito forte. Ninguém imaginava o que aconteceria lá. Ela disse que estava na janela, com a família na sacada, quando viu luzes no horizonte. Ela achou que eram raios, ‘está vindo uma tempestade, será?’, e como acontece nas tempestades, primeiro vem o som do trovão e depois o raio. E ela comentou que a distância entre as luzes e o barulho foi ficando cada vez menor, até não fazer mais diferença. A bomba explodiu ali, do lado da casa dela”.

Rima também compartilha uma das histórias mais marcantes que ouviu:

“Um dos relatos que mais me marcou foi o de uma mãe, e eu também sou mãe. Era uma família com um pai, uma mãe e quatro filhos. A mãe chorava de forma visceral ao falar do filho mais velho, sequestrado na guerra. Até hoje, ela não tem notícias dele. E quando não se tem notícia, a dor é ainda pior.”

Histórias como as contadas por ambas as autoras nos ajudam a nos relacionar com essas pessoas, a entendermos como somos parecidos e como podemos conviver. As autoras ainda reforçam que os outros livros da coleção Mundo Sem Fronteiras também abordarão temas semelhantes. “O próximo contará a história de um menino haitiano no Brasil”, revela Cassiana em primeira mão.

Nós mal podemos esperar, e vocês?

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